Não sei ser um pedaço de mim.





Não sei ser um pedaço de mim.
Se não sou inteira, então não sou.
Se não estou inteira, eu não estou.
Nada me completa, se não o eu completo em mim.

Se me vejo em pedaços, não me reconheço e me afasto.
Se me afasto, sinto saudades.
Se sinto saudades, me entristeço.
Procura a liga que me juntava e construía aquilo que eu um dia eu fui.
Esta almágama, perdida em meu calendário, hoje me faz falta.
E fico eu, juntando cacos, tentando laços, arremedando o meu ser.
Esse tentar me cansa, me faz pensar "para quê"?
Se não posso mais ser eu mesma, o que então deveria ser?
Saberei nascer de novo?
Saberei ser inocente com a alma velha?

Pode ser que tenha chegado o tempo da despedida.
Despeço os sonhos, o brilho nos olhos, o desejo de amar.
Despeço as lágrimas, as noites sem sono, a tristeza no falar.
Despeço o tempo perdido nos pensamentos, escritos na solidão.
Despeço a procura, a eterna esperança, a fé no que virá.

Despeço tudo e todos, quero me ver nua, sem nada a me amarrar.
Quero me ver nova, sem rastro de sentimentos,
sem passado nem sofrimento que possa me prender.
Nascer de novo, como o Sol todos os dias.
Nascer e poder mudar, como a Lua todas as noites.
Respirar de novo meu sopro vital e novamente me ensinar.
Me refazer, me descobrir na nova que serei.
Fazem de mim um novo eu inteiro.
Composto somente de mim e só de mim me alimentar.


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