Ser serpente


Quem pensou ser fácil trocar de casca a cada manhã?
Como respirar se a nova pele tem outros poros?
O que fazer quando o espelho não é mais o mesmo?

Agora sei como vivem as cobras,
Que trocam a pele de quando em quando
E se renovam pra outro tempo.

Agora sinto as dores da alma
Que com o instinto de manter a calma,
Reaprende um novo estar.

E como a serpente que passa breve
No chão da vida deixo meu rastro
De pele antiga, com suas marcas.

E o susto vem ocupando espaços.
Aos saltos estranho novos cansaços
De sentir dores não sei aonde.

Busco outras estrelas no novo céu.
Descubro olores, renomeio cores.
Meu faro é virgem pro novo ar.

E meu eu serpente, de corpo vivido,
Desliza o chão desta nova terra
Numa nova dança, num novo espaço,
Trilhando a busca de ser feliz.
Foto: Espetáculo Supernatural, de Alex Eynaudi

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