Quantas


Quantas somos eu?
Eu, que anula o passado jogando agendas na lata do lixo,
que enrola a linha do tempo pra não sentir o presente,
que teima em sonhar o futuro com a boca aberta .

Quantas cabem em mim?
Eu, que se espraia na vida, braços abertos a esperar o mundo,
menina que se esconde do escuro da sala na luz acendida,
cabelos ao vento numa moita sem fim.

Quantas alimentam meu ser?
Eu, das lembranças achadas nas memórias perdidas,
do todo dia, vida nova, eterna alegria,
das páginas das tardes de uma cama morna.

Quantas vivem a minha vida?
Eu, da bicicleta voadora cruzando nuvens, olhando flores,
da rotina das letras, telas de luzes e festa de cores,
das malas prontas, mochila nas costas e dores nos pés.

Quantas amam em meu peito?
Eu, que busca a paixão numa aventura arqueológica,
que entrega a alma, sem pensar em razão nem sequer em dor,
de amores amigos, amigas amadas e amigos amigos.

De tantos moldes escrevo uma só.
Cada palavra com uma letra diferente,
Cada sonho com uma espera renitente,
Cada dia com a novidade presente.

E fui, e vou, e irei
Não sei pra onde, nem quando eu sei.
Só sei que o destino me leva
Nas trilhas seguindo, levando no peito
Estas tantas meninas que fazem a mim.

Foto: Manequin no El Corte Inglès

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